Agora eu sou uma senhora de noventa e poucos anos, sentada na varanda do meu prédio, porque toda aquela fantasia de casinhas pintadas de cores fracas e jardins floridos não é a realidade de uma velha da minha idade. Venho aqui todos os dias e todos os dias me recordo de uma parte da minha vida. O vento bate na minha pele cansada de viver e o ar enche meus pulmões poluídos. Os cabelos brancos tomaram o lugar daquelas lindas ondas castanhas que eu tanto odiava, as rugas e as manchas do sol escondem a pele branca e sem defeitos que eu não me conformava em ter, e os corpos perfeitos que eu via na televisão e tanto desejava para mim, hoje é tempo que perdi enquanto tentava ser igual a todas aquelas mulheres.
Quando se tem noventa e poucos anos a única coisa que você quer é que não se esqueça do nome das pessoas da sua família, que sua dentadura não caia da boca e que sua coluna não resolva te matar de dor. Eu era tão linda. Nas fotos eu estava tão linda. Agora preço uma ameixa seca e tudo o que eu quero é ter mais algumas oportunidades nessa vida que me resta.
Dane-se a perfeição que eu procurava, só agora à beira da morte é que eu vejo que eu não deveria ter me importado tanto com a merda do meu corpo e do meu cabelo.
Fui uma mulher com tantas realizações... Tive dois filhos lindos, evoluí profissionalmente, um marido maravilhoso, amigos incríveis que estiveram comigo nos piores momentos da minha vida e fizeram os melhores momentos se tornarem inesquecíveis, e mesmo assim, passei a vida toda olhando para o espelho e achando alguma coisa que deveria mudar em mim.
Acho que o que mais me arrependo, depois de todos esses anos, foi ter me olhado tantas vezes naquele maldito espelho que só refletia as burrices que eu pensava, nada mais.
Caroline Linhares
quem escreveu?
ResponderExcluirhttp://ellemoderne.blogspot.com/
@raissa_neon
Eu, tudo o que tá aqui sou eu que escrevo.
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