quarta-feira, 25 de julho de 2012

Morangos




Que aquele céu no auge da raiva resolveu acabar com o nosso domingo.
Tão poucos eram os domingos juntos, antes de você resolver abandonar todo mundo por aqui e seguir seus sonhos. Não julgo abandono, julgo liberdade. Como pôde ser livre sem mim? Como pôde ser livre sem avisar? E agora o que serão dos nossos domingos? O que vai ser de ti sem a tua Cecília nos domingos? O que vai ser de ti, meu amigo? Meu amor.

Sabe que estou contigo, apesar de me deixar aqui, sentada nas escadas na esperança de que volte.  Sei que foi sem culpa, sem medo, de coração aberto, sem saber que ainda te espero e que estarei aqui aos domingos, na esperança de que volte.

Porque se livrou dos domingos e foi ser livre?
Pra mim liberdade era sentir o vento nos cabelos enquanto me rodava.
Eu era bailarina, era tua amiga, tua Cecília. Agora sou a esperança. Espero morrer logo.

Guardei sua camisa preferida. Está lavada, passada, dobrada e cheia de saudade.
Às vezes chora e me conta que até ela foi deixada para trás, as vezes se sente enganada, usada. Ou nem tanto. Eu um pouco, talvez.

Dei pra picar tudo o que vejo pela frente. Eu faço a comida e pico, pico tudo em tamanhos mínimos, quase vira sopa. Passei a descontar meu nervosismo nas coisas e nas comidas.
Outro dia picava um pouco de morangos, – Pensei: posso morrer de saudade, mas os morangos, estes ficaram – e lembrei que de como fazia uma maçaroca horrorosa com açúcar, mel e tudo o que tira o gosto da fruta de verdade e dizia: acho tão bonito seu amor e o valor que você dá para as pequenas coisas.
Dei valor às pequenas coisas, dei valor às mínimas impossíveis, dei valor pra você, pra sua camisa, pros seus morangos. Joguei os morangos pela janela para que fossem livres também, pena que não serão livres com você, assim como eu.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Tentar




Amor.
Não, não estou falando do amor que tem nos posts aqui em baixo e tal. Hoje eu meio que quero falar da expressão de um tipo de amor peculiar, que busco entender de uns tempos pra cá, desde que comecei a me importar de verdade com algumas coisas que atormentavam minha cabeça.

O amor que abraça e que briga, que fala e não te escuta, que pede ajuda mas esquece o tempo todo que seu silêncio está gritando, que ignora seus apelos, que pisca pra você enquanto você se mata de tanto falar blá blá blá, pelo amor de Deus me entende.
O amor que deveria ser universal, estupendo e acolhedor. Desse que eu sinto falta. Não que ele literalmente falte, mas não é o que deveria ser, infelizmente e definitivamente, não é.

Certas coisas, só consigo dizer escrevendo. Outras delas, nem assim. Não é falta de vocabulário, não é falta de paciência. É que não dá pra dizer o que eu sinto sem, pelo menos, meia dúzias de palavrões, letras em negrito, gigantes. Minhas palavras são mais fortes do que eu, palmas pra elas.

Pois bem, o amor, certo? O amor que eu vejo escorrer pelas mãos feito água.
Enquanto você segura cuidadosamente, com as duas mãos, tentando não deixar cair, tentando manter elas cheias... A água pinga, o amor pinga, indo embora a cada gota, até minha mão cansar de segurar.

E eu choro, porque não sei o que fazer. Porque estou sempre errada. Por mais que eu diga, eu sou o erro, sou injusta, sou egoísta, só falo de mim nos meus textos.
Deve ser o meu jeito desajeitado que agrada a poucos, que na maioria das vezes eles não entendem, o mundo não entende, esse mundo que pinga, que me cansa a cada dia mais, por não me entender, por nem ao menos, por uma porcaria de minuto, tentar.

terça-feira, 3 de julho de 2012

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Quero a arte de uma vida tranquila.

Os sons da natureza ignorando a tolice dos homens.
Os livros, os balanços na rede, as estrelas nos olhos, a sensibilidade das palavras, de ouvir, de sentir de novo as cores sutis.
Como um poeta que vive em sua obra, que cuida, que molda.
Viver do que dá alegria, das coisas mais simples, do cheiro do café, da percepção das texturas. Os abraços apertados nos fins de tarde, hei de aproveitá-los, talvez. Talvez o cheiro da chuva enquanto ouço música, dançando sozinha em um espaço enorme dentro de mim.
As histórias que se criam na ponta de um lápis, na finura de um papel, traçando destinos de personagens marcados, de olhos marcados por uma dor que não existe, por uma paixão transcendental entre os corpos, corpos ao meu comando, eu brincando de Deus.
Ser o que é meu por direito, ser toda a sinceridade que há no mundo, no que amo cansar as mãos, beirando as noites que forem necessárias, com um sorriso no rosto, com lágrimas de realização.
A paz que chega de repente e preenche os pulmões com tudo que há de bom, como se nada pudesse perturbar.
Ver que a turbulência passou.
Olho em volta, passou.