terça-feira, 12 de julho de 2011

Do nada

Vamos fingir que eu te encontrei.
Eu apressada, enrolada com a bolsa, num frio terrível de uma tarde de inverno sem muitas expectativas, pronta para virar na próxima esquerda.
Você trocando as músicas do mp3, tentando achar a certa para o momento, por mais indiferente que ele fosse, sem ligar muito para onde os seus pés te levavam e sem nem perceber que viraria a direita.
A sacola cai da minha mão, me abaixo para pegar, tentando achar um jeito de que todas as outras coisas não caiam de mim. Você não me vê e esbarra em mim, eu te olho com um pouco de raiva e você com cara de “Foi mal!“ , me levanto, volto a andar e o meu salto quebra.
Paro, respiro, reflito o meu dia e vejo que nada deu certo... Começo a chorar. Você me pergunta se está tudo bem e eu tenho uma leve impressão de que se eu te matasse talvez me sentisse menos estressada, digo que não e você vendo que realmente não estou bem, pergunta se eu gostaria de tomar um café com você.
Sentada na mesa, depois que a raiva foi transferida para uma torta de nozes, me sinto um pouco melhor e vejo o quanto o seus olhos ficam bonitos quando a luz do fim da tarde fria bate neles, você me olha achando que sou um pouco maluca, mas gosta do jeito que eu me visto e de como aparentemente pareço não ligar para o jeito que o meu cabelo cai no rosto, deixando ele lá mesmo. Os seus conselhos sobre nervosismo são bons, você me diz que perdeu o hábito de pentear o cabelo a uns dez anos, que gosta de cachorros e me fala das suas manias esquisitas. Eu te digo que sou jornalista, que tiro fotos de coisas incomuns e marcantes, que minhas sardas me incomodam mas que aprendi a conviver com elas. Terminamos a conversa, eu saio do café e esqueço meu celular em cima da mesa, você liga para alguém, pede o meu endereço e aparece na minha casa no dia seguinte para me entregar. Te chamo para entrar, ficamos desconfortáveis na presença um do outro, te ofereço uma bebida, você vai na cozinha, diz que gostou a minha foto do Elvis na parede, eu dou um sorriso, você sorri de volta e diz que o meu sorriso é o mais bonito que já viu, abaixo os olhos sem graça, você chega perto, seu cheiro é bom e sinto vontade de te beijar, você levanta meu queixo, acomoda alguns fios do meu cabelo atrás da minha orelha e me beija, antes que eu o fizesse.

Caroline Linhares

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